Ridículo... ridículo!

Às vezes temos que sorrir sem motivos, só pra que as pessoas não venham perguntar o que há de errado, só pra não perder tempo contando problemas, comparando as piores partes das histórias, umas com as outras, pra que as pessoas não saibam que temos dias tão ruins... e vai saber se não há mais dias ruins do que bons?! Saímos de casa e nos vestimos da melhor forma possível para que as pessoas achem que estamos com a auto-estima em dia, e se for de dia é melhor, porque os óculos escuros escondem o brilho torto dos olhos. Tem gente que sabe esconder, tem gente que simplesmente não consegue, só que aí não se sabe qual é a parte boa ou a ruim. Se a gente sabe esconder é mais fácil, algumas coisas passam mais rápido, mais facilmente (porque alguns problemas só se resolvem se os esquecermos), sem precisar envolver mais ninguém e suas preocupações, aquela coisa de meio que sofrer calado. Se a gente não consegue disfarçar tem a parte boa de ter com quem compartir os maus momentos, de não passar sozinho, aquela coisa de não ter nada a ver as outras pessoas cuidando dos seus problemas. Lado bom, lado ruim, a vida parte do pressuposto de que as aparências regem os relacionamentos. Hã? Coisa boba, coisa boba... ninguém quer estar perto de quem vive reclamando, que vive triste, que vive botando defeito nas coisas/pessoas.

São as personalidades mais diferentes que chamam a nossa atenção; as melhores parecem ser aquelas que riem da própria cara, que acham graça nas coisas inimagináveis, que se concentram e compreendem o indizível, nem precisam de tanta explicação; as coisas só “são” e pronto. Se é pra chorar que chore, que ninguém adie esse momento por achar ridículo demonstrar fraqueza; se é pra rir que ria – sincero e alto para não se sentir ridículo; se é pra dançar que dance, sem medo de parecer ridículo, porque coreografias existem pra uniformizar, que dance do seu próprio jeito, mesmo que seja só pulando ou só mexendo os dedinhos indicadores ou os ombros de um lado pro outro; se é pra se vestir que se vista do jeito que gostar, sem temer parecer ridículo; porque o mundo tem o poder de fazer todos se sentirem ridículos, não importa o que estejam fazendo... chorar é ridículo, dizem que é sinal de fraqueza – bem, o homem é fraco em sua natureza; rir é ridículo, dizem que é coisa de pateta; dançar é ridículo, dizem que é coisa de desocupados; vestir-se do jeito como se quer é ridículo, dizem que se tem que estar na moda. Ridículo! É tudo questão de uniformizar, de manter as pessoas alienadas, de calar, de tirar dos indivíduos a única forma de torná-los distintos uns dos outros: o soltar-se. Fulano é diferente de Cicrano porque gosta de dançar; cicrano já gosta de cantar e Beltrano gosta de escrever; Coisinha gosta e sabe falar como ninguém, Mariazinha se veste muito bem, sabe valorizar seus pontos fortes quando se veste, quando se maquia. Joãozinho faz amigos com uma rapidez incrível; o Zé já é mais calado, é mais tímido, ele tem medo de que Fulano, Cicrano, Beltrano, Coisinha, Mariazinha e Joãozinho achem que ele é ridículo porque não dança, canta, escreve, fala, se veste como eles e ainda por cima é apaixonado por Mariazinha e tem certeza que se dissesse a ela que a ama ela ia rir da cara dele e iria achá-lo ridículo, e vai ficando na sua, caladinho, quietinho, querendo dizer tudo o que sente e que as pessoas ignoram, querendo ser diferente mostrando fazer o que gosta e que faz bem-feito. Mal sabe ele que assim como o beijinho escondido que ela tem, ela tem, todas as noites, o mesmo sonho, e espera tanto ouvir a frase que o Zé tem para dizer... mal sabe ele que ela jamais riria da cara dele por uma coisa tão séria...

Comentários

Unknown disse…
e nós somos péssimas fingidoras! quem conhece sabe, neh? e não acho isso ruim, viu? economiza tempo!

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