Da minha inconstância

Quando eu era pequena achava que um dia seria adulta e teria alguém olhando para mim como se eu fosse, de fato, adulta (leia-se esse alguém como criança). Do “alto” dos meus 22 anos não vi muita coisa mudar no meu raciocínio, a não ser que algumas vezes sou autoritária o bastante para parecer uma adulta sensata. Uma vez uma professora falou que eu tinha jeito para política, mas eu tinha 13 anos e adorava aquela coisa de críticas ao sistema nas redações de geografia – eu adorava geografia política e geopolítica.
Então chegava em casa, mostrava os “10” aos meus pais e ia brincar de boneca (brincar de Barbie não necessariamente irá te transformar em uma pessoa em neuras – minhas futuras filhas que irão brincar com as suas agradecem). Sim, aos 13 anos eu ainda brincava de boneca. Aos 22 ainda faço coisas que fazia quando tinha 9! Mas não brinco mais de bonecas. Continuando... fiz dancinha e ballet um tempão – e as professoras diziam que eu levava jeito para a coisa; mas desisti. Eu mesma não gostava muito. Freqüentei o conservatório de música por 5 anos, levava jeito e até gostava, mas comecei também a freqüentar aulas de inglês e passei a misturar os horários e a passar bem menos tempo em casa; a música não vingou. Foi aí quando tive a idéia de jerico que estava ficando mocinha, porque tinha “coisas a fazer”.
Para a criança, “ter coisas a fazer” significa maturidade, porque houve no processo de crescimento o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas e parecer inabalável no intento da resolução.
Percebi que definitivamente não gosto de política. Bem, sou política, mas tudo de errado que existe (o que se resume a praticamente TUDO no mundo) me faz perder cada vez mais o gosto pela vida em sociedade. O simples fato de eu viver em sociedade, modifica-la e ser modificada por ela me dá medo, porque não quero ser tão suja, tão medíocre. E é dançando que se escapa dos problemas (dizem).
Nem sempre sou compreendida – é fato, até quando tudo parece tão claro na minha cabeça. Tem épocas em que um segundo de tempo real representa 4 horas de pensamento no meu juízo. E nem concluo raciocínios.
Aprendi a detestar me explicar para os outros. Se segundo Clarice Lispector “viver ultrapassa qualquer entendimento”, não sei o que estou fazendo. Parafraseando Shakespeare, aprendi que tenho muito mais dos meus pais do que imaginava. E, se há 5 anos eu não aceitava isso, hoje sei que detestaria se fosse diferente.
Tem épocas em que sou abusada (não é a TPM, é um tempo correspondente ao multiplicado da TPM por 40, aí você tem o número de dias). Tem épocas em que a prepotência toma de conta de um jeito que é difícil disfarçar o abuso de estar entre pessoas. Mas consigo.
Pensava que alguém já seria adulto aos 22 anos. Posso ter a mente de uns 35, mas deve ser pela rapidez com que ela funciona (falo na rapidez e não na qualidade). Aí chego à conclusão que na maioria das minhas 24 horas diárias penso muito mais infantil para passar melhor e me aborrecer menos com o mundo; vivo tentando coisas para correr melhor a vida e pensar menos que tudo está errado. Porque na verdade tudo está errado – e só eu pareço ver isso?
Pelo menos viver me trouxe o aprendizado de que os conceitos são mutáveis, opiniões são dinâmicas e sentimentos se gastam, por isso é melhor que usemos todos eles, antes que passem direto e nunca sintamos o gostinho da decepção (sadomaso de lado...). O melhor de tudo é a "auto-ajuda ao contrário".

Comentários

Anna Soares disse…
Sério que vc consegue disfarçar?
Me ensiiiiiiiiiiiiiiina!!!!!!!!!!
Eu juro que não consigo. Não mesmo. E também não tenho conseguido frequentar ambientes 'meinstrim", gente tem me ensinado que a minha vó tem razão e 'boa romaria faz quem em sua casa fica em paz'. Agora me fala, como é q tu q é parecidissima comigo e escreve um monte de coisa q eu penso...Como é q a gnt nunca se cruzou?
Ham?
ham?
Adoooooooro o q tu escreve tb. E valeu o apoio moral lá.hehe
=*
Anônimo disse…
Gostei do "auto-ajuda ao contrário", até pq odeio auto-ajuda do jeito certo. Acredito que é preciso ser realista e ver as coisas ruins para valorizar as boas e daí ter alguma auto-confiança. Nunca me conseguiram enganar com aquele papo de "você pode tudo que você quiser". Bem, acho que a vc tb não.
Bjão!
Lucy, disse…
Quando eu era pequena achava que nâo ia chegar aos 20 anos, não que eu fosse uma criança depressiva hahahha, é que me parecia tão longe e idéia de ser adulta era absurda. Mas eu continuo com muitas coisas dos meus dez anos, bem mais do que eu deveria ter!:D

"mas deve ser pela rapidez com que ela funciona (falo na rapidez e não na qualidade)"

Eu tb!


;***
Anônimo disse…
Sabia sim que ele criou muito disso. Mas ele, o Euclides, só retrata a imagem que os que não são da nossa terra já tinham de nós desde o tempo do Império...
Anônimo disse…
Jamelão é o que vocês chamam por aí de azeitona preta.
heuheiuhiehiehiehiehiu
Jônatas Andrade disse…
Eu brinquei de boneco (Comandos em Ação) até meus 15 anos... pense como era bom. Massa demais. Bom demais ser adulto mas ter uma crinaça por dentro. Compro revista em quadrinhos até hj, já comprei uma do Batman hj. Se bem quadrinhos hj muitos são mais pra adultos do q pra crianças. Ainda tenho 2 bonecos dos Comandos em Ação aki, eu deixo em cima de uma bicicleta q tá em cima da TV aki de casa, junto com outros "souvenirs". As vezes acho q parei no tempo. Aí paro e penso: que bom que parei.

:)
Anônimo disse…
Percebi uma "leve" crítica pessoal no quesito barbie!rsrsr Não serei uma mãe carrasca por nao comprar a boneca-galega-véia-sibita pra Luiza, oura mais! E quando Elisa vier brincar aqui em casa (gordinha,cara de maçã e totó no cucuruto da cabeça com as melengas de cabelo) e vir a "Chuquinha" de luiza ela vai se identificar muito mais com ela, e eu vou dar uma de presente e ela vai ser bem feliz. Fora q Luiza vai ver a barbie e dizer "ridjícula, meeeeo, ela tem de ser anoréxica pra ser assim, joga isso fora,Lisa" (o sotaque é por causa dos anos em São josé, o senso crítico por conta da mãe e das tias méia e pris).
No final da tarde nos encontramos na Doces e Salgados, cada uma com seus buchinhos graciosos. rsrsrs
maria clara disse…
ah.
boa parte desse texto vale pra mim...

outro dia assiste "caindo na real", filme que a lucy aí me emprestou... e tem uma passagem nele que a lelaina (winona) fala que pensou que aos 23 anos ela já seria alguém. e o troy (ethan hawke) diz que a única coisa que ela tem que ser aos 23 anos, é ela mesma...

enfim...
isso me fez pensar.
acho que também pensei que seria alguém aos 23 anos.

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