Surpresas boas e ruins

A vida nos reserva coincidências gostosas, e umas cruéis, daquelas que fazem a gente tomar um banho que deveria ser gostoso pensando se não fez tudo errado, se não deveria ter tomado outras atitudes quando nem ao menos era necessário se esquivar. As decisões mais corretas privam a pessoa do que é realmente bom e que, no final é de verdade o que se leva da vida.
Uma coincidência gostosa: pegar um ônibus de volta pra casa num domingo à tarde resolvendo se está ou não de ressaca e de repente, entra um amigo procurando a poltrona dele e coincidentemente dá de cara com você e mostra o bilhete com o número da poltrona ao lado da sua. É aquele amigo mais velho com o qual você dificilmente se encontra, mas que lhe garante horas de ótima conversa sobre todos os seus gostos afins, aquele que lhe deixa à vontade e te faz sentir da mesma idade e (quase) mesma experiência. E assim é a viagem de quatro horas de volta pra casa, que seria extremamente enfadonha. Boas coincidências.
Uma coincidência cruel: normalmente temos épocas de nossas vidas das quais tentamos nos livrar a todo preço; seja da escola antiga, do antigo namorado, do tempo de gordinho, de uma viagem triste, de um amigo que se foi. Sem mais nem menos, num belo dia nublado (entenda, não-habitante de Mossoró: os bons dias aqui são os nublados que ventam), numa carona, numa conversa até com alguém querido, no meio do shopping, você ouve ou lê uma frase que te faz reviver todo aquele tempo desgostoso que passou: só uma frase. Uma maldita frase doída.
E por aí vai. Dia após dia aprendendo a viver sem, ou se deleitando com as coincidências gostosas e revigorantes. Não dá pra viver sem. Tudo é como aquela teoriazinha da portinha do subconsciente.. a gente passa pela situação que quer esquecer e esconde tudo, como poeira embaixo do tapete quando varremos a casa e queremos terminar logo, e esconde tudo, temendo que tudo volte à tona (e não sei porque, já que SEMPRE TUDO VOLTA).