O que penso de relacionamentos


Buscando esses livros de auto-ajuda dificilmente conseguimos melhorar o espírito. O mínimo que conseguimos é, num esforço descomunal, identificarmo-nos no texto. Isso porque a maioria das pessoas adora “curtir” a fossa porque têm nela a chance de se conhecerem melhor. Mas o pior mesmo é quando você acorda naqueles dias em que nem a conversa amiga adoça, quando você está prá baixo não sabe por que e mesmo assim tudo parece conspirar contra si, tudo dá errado, daí que você pensa que a maré alta nunca vai passar, a Lua jamais voltará a seu curso normal.


Sentimos que perdemos algo num rompimento e erroneamente dizemos que foi o outro: “perdi-o para sempre!”, quando na realidade perdemos muito de nós mesmos com a quebra do elo que nos unia ao outro; elo esse construído com sentimentos nossos, planos traçados, corações preparados. Uma vez minha mãe disse que uma coisa só é nossa quando a construímos, ganhamos ou compramos; eis uma máxima corretíssima. Nessa perspectiva chegamos à conclusão de que o outro jamais foi nosso para que o pudéssemos perder. Ninguém é nosso além de um filho. O que perdemos num rompimento é o pedaço de nós mesmos que depositamos naquele elo partido.


Mais interessante é imaginarmos de que era feito o elo no relacionamento. Queremos sempre que aquele material seja o isopor; leve, para não sentirmos o peso do amor do outro nem deixarmos o outro sentir o nosso, branco, sem manchas, mentiras, alienação ou outra coisa que possa embaçar a vida, e, frágil, para que ambos tenham o cuidado de manter a ligação intacta, pois, uma vez rompida, nunca se conserta. Perdemos, pois, sentimentos nossos, muito, mas muito amor próprio e auto-estima, coragem e além de tudo, uma amizade que não se restaurará. Não choramos porque “perdemos o outro”, choramos porque perdemos bastante de nós mesmos naquele elo de isopor que se quebrou, daí que pensamos que sofremos por outrem. Balela pura! O homem não chora porque perde amigo; chora porque na amizade em si, que se foi, foram-se momentos seus, sentimentos seus esquecidos, ou, talvez, simplesmente jogados fora. No geral o homem chora por orgulho. Eu choro muito mais por raiva, mas tudo bem.


Grandes fatias de mim estão incrustadas nos laços de amizades que tenho; se um dia alguma(s) dela(s) se acabar(em), vou sofrer porque os pedaços de mim que se foram com ela(s) deveriam lembrar coisas boas, vou sofrer porque a pessoa desconsiderou uma parte minha que ficou com ela. Depois de um tempo vou compreender que meu sofrimento reside na minha parte perdida, pois se eu não tiver amado aquele amigo, “tô nem aí” prá ele que se foi, importo-me mais com o meu gasto de sentimento para com ele. Aí está um bom motivo para sermos sempre nós mesmos em quaisquer que sejam nossas relações com o mundo, para que nessa perda de nós mesmos encontremos no outro um repouso concreto e propício aos nossos sentimentos e que nos reconheçamos em um eventual rompimento.

Amar se refere muito mais ao sentimento individual momentâneo, oportunista, o que seja, do que nas atitudes altruístas ou na emoção de “doar”. “Eu amo quem sou quando estou com você”. Essa seria a frase correta, mas o tempo, a sociedade e tudo o mais se encarregaram de atribuir maior beleza à dedicação a outrem e não a si mesmo. Inventaram a pecaminosidade do individual e supervalorizaram o alheio. Esse é o negócio. Mas dá pra prestar atenção: no fundo de praticamente todo sentimento humano (dããã.. não, sentimento suíno!) estão bases religiosas ou sociais que mascaram o real sentido da alegria individual. Deu pra sacar? Hã? Hã? Hã?

Comentários

david santos disse…
Olá!
"Deu pra sacar" e muito bem. Só não estou totalmente de acordo, porque a palavra paixão devia constar no texto em substituição de outra. Claro que este é um entendimento pessoal.
Tirando este aparte, estou 100% de acordo.
Parabéns e bom fim-de-semana.

David Santos
She Python disse…
oi flor...
pensamos bem aprecidas... aliás uma das sheilas de minha personalidade pesna parecido contigo...
alilás...
vou dormir... passei pra dar beijokas
VALHA!!! disse…
Seria maldade pura dizer q seu texto tá bom... pq ele tá lindo demais. Eu concordaria com absolutamente tudo, se eu não achasse que nem os filhos que faremos (ou não) serão nossos!

Tirando isso, perfeita sintonia!!!
Anna Soares disse…
eu amo quem eu sou quando estou com ele.
mas eu amo a ele também.
profundamente.Se acabar, tudo bem. Mas eu amo agora. E só pelo presente eu posso falar. momentaneamente ou nao, ele é o cartucho de tinta colorida da minha vida.
bjs
cade o conto?
Sisa disse…
Nossa... foi um tapa na minha cara. Merecido, diga-se de passagem. Muito bom!
Séfora disse…
Retribuindo a visita hehehehehe
Puxa, a parte em que vc diz que perdemos alguém, na verdade perdemos uma parte nossa q colocamos na pessoa me fez pensar diferente sobre um monte de coisas. Ótima percepção.
Angel disse…
Concordo com vc! E isso se encaixa bem quando desejamos morrer antes de alguém que amamos. Claro, para não sofrer com sua morte.
É pensando em nós mesmos que fazemos isso, mas o Amor ao outro é a grande justificativa sempre.
Bjos!
Anônimo disse…
Num tá lendo muito o bigodão egoísta não? Entao a tábua de frios que eu quero servir é mais pra eu comer do que pros outros? rsrsr Queria ser menos gulosa (mas vou caprichar nas azeitonas!!!)
Anônimo disse…
Bah... tu te expressa muitíssimo bem!!! Parabéns demais!!!

Sobre o texto, acho que não sentimos tristeza porque uma pessoa se vai (em vida ou em relacionamentos) ou porque deixou saudades... acredito que é pela certeza que temos de não ser mais possível criar futuras boas lembranças com essa mesma pessoa... enfim, eita ser-egoísta- humano que somos...

BEijos
MEder
Unknown disse…
E olha que eu já perdi as contas das partes minhas q perdi com quebra d elos... Levando em consideração meu tamanho... Tô lascada!

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