Medido, pesado e dosado


“I'm so two thousand and eight, you're so two-thousand-and-late”

Tem uma coisa boa que faz muito tempo que não faço: sentar na praça do centro no comecinho da noite num banquinho comendo chocolate e tomando smirnoff ice. Muito tempo, tipo coisa de dois ou três anos. Inventamos rituais de manutenção da boa rotina. E tem os rituais especiais (e simples) que inventamos justamente para escaparmos do marasmo.
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Não me empolgo muito com as coisas. É fato. Não fico feliz demais pulando e gritando, não rio demais a toda hora. Não sou sentimentalista ao extremo. Não faço provas de amor, não faço grandes coisas em público. Apaixono-me em silêncio e sou eufórica na minha felicidade em silêncio. Nunca me pergunte o motivo disso. Perturbo-me, sim, facilmente, embora ultimamente tenha conseguido (e até acho bom) também me descontentar em silêncio. Nunca gostei, e falo em gostar, mesmo, de falar sobre planos de forma concreta, de compartilhar planos no plano real; e nem lembro se é uma espécie de trauma, isso de achar que qualquer coisa que diga ou faça seja considerada ridícula, que depois seja desdenhada, ou jogada fora. Então aprendi a não ser efusiva. Mas acaba nem sendo timidez propriamente dita. Não tenho realmente vergonha, vergonha assim. Vergonha tenho do corpo em alguns momentos, mas isso é uma outra história. Tenho forçosamente a mania de me reservar, o que, invariavelmente tem se intensificado. Não sei se é bom, ou se é ruim de fato. E de tanto pesar as medidas do bom e do ruim, tem horas em que concluo que a reserva tem pesado para o lado mau. Isso de falar do futuro como algo tão próximo, porque para mim até a semana que vem é um futuro distante. Adotei a filosofia do “um dia de cada vez”.
Não me convide para esportes radicais, para situações de risco, de aventuras, porque sou a pessoa menos fã de descargas de adrenalina que já se viu, muito embora tenha uma boa comunicabilidade que às vezes beira a necessidade de uma dose de 10mg de diazepam. Mas durmo bem até demais. E estou satisfeita até demais. É só a eventual sensação de aperto, de entalo que insurge com a rotina exagerada, com a mesma-coisa-de-sempre, com a distância do bom futuro, com a falta daquilo que tendo aproximadamente a cada 20 dias quereria ter todos os dias, com alguma estranheza que é até complicado de definir.
Nessa mania de reserva, decidi que tudo deveria ter uma dose certa para que existisse um real equilíbrio, para que uma fase aí não tenha que se repetir: nem euforia, nem depressão, tudo medido, pesado e dosado – para não cair nas (des)graças alheias, para não me sentir só sempre, nem incompleta, nem impotente, nem me sentir grande nunca. Então potencializei a aversão à grandeza e à pequenez; potencializei a aversão à externalização de algumas reações que estão justamente potencializadas no meu conceito.
Sou alegre, sim, mas na minha triste dose certa de demonstrar o que desesperadamente realmente quero que seja sabido. Então, a ser definido em palavras escritas, eu amo desesperadamente, assim como penso coisas, quero coisas, planejo coisas desesperadamente, só que tenho pesado também desesperadamente. Sozinha é que não dá para medir tudo. =)

Comentários

Marco disse…
Sim, você voltou. Com classe, como sempre. Às vezes eu mergulho nos teus textos e na tua intimidade (porque blog é a palavra e a expressão globalizada e sem censuras) que, mesmo que eu não entenda tudo o que você quis dizer ou o que de fato está se passando, eu intuo absolutamente bem. É estranho, mas ler o que a Mia disse é fechar os olhos e te acompanhar nos teus devaneios, ansejos e crueza. Gosto de te ler, as frases vão tomando forma e eu consigo te ler até o fim. Com prazer. Bem vinda de volta.
Patricia disse…
Ei, tem menos de tres anos a historia da vodka e do chocolate!!!

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