Talvez tenha mais que uma metade...


[Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço; e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada]
Todos temos dias bons e dias ruins. Como? Você nunca teve? Nunca teve dias seguidos achando que continuaria a ver sempre em preto-e-branco? Tenho tido desses dias.
Sabe, nem sempre tenho vontade de andar por aí distribuindo simpatia, mas tenho quem queira me ver feliz sempre. Quero me fazer feliz. Quero que queiram me fazer feliz, assim como me habilito a complementar a quem quer que a minha vida se destine.
[Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão...]
Sou uma pessoa pacífica; amo além da conta e fico entalada – tanto no amor como nos desgostos. E triste de quem acha que quando se fala de amor, refere-se apenas ao amor carnal, ao amor romântico. Fala-se do amor fraternal, dos laços de amizade, da continuidade do ser-no-mundo e, claro, também se pode falar naquele amor entre os amantes. Amor é universal.
A mente pequena não consegue medir além dos 3 centímetros quadrados de sua limitada da massa cinzenta. Eu meço mais do que minha alma pode atingir.
Sabe, eu já tive planos... objetivos sonhados, algumas vezes ao limite da concretização, mas a vida nos obriga a mudar de rumo, as pessoas nos obrigam a mudar de rumo, as vozes interiores nos obrigam a mudar de rumo. Não sei se ou quando mudarei novamente o meu, mas me sinto presa ao meu coração. Uma prisão estranha, porque ao mesmo tempo me sinto livre dentro de meu próprio mundo. Às vezes passarinho, às vezes lagarta. E ainda gosto; ainda amo o que tenho e amo mais ainda o que sou.
[Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável; que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância; Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...]
Sabe, eu sou boa; boa porque isso é uma questão de referencial. Para Deus sou filha, para minha mãe sou perfeita, para meu pai, sensível demais; para os amigos, companheira – nas brigas e nas risadas; e para quem me merece, bem, que seja perguntado e a resposta que se considere justa. Para mim eu sou boa (e me zelaria, também, por demais - se eu não fosse eu e se já não fosse zelada).
Merece-me quem pode; merece-me quem é bom – assim como eu. Nem tão mais, nem tanto menos. Medidas iguais afirmam a justiça. Tenho qualidades que prezo e não preciso de que fiquem me lembrando delas – muito menos das minhas falhas. Por isso tento não apontar.
[Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço...]
Não escrevo só sobre o que é bom, porque também sou triste. Falo das tristezas com os dedos e expresso minhas alegrias com meu corpo, e assim quase ninguém me conhece – e quem conhece se confunde. Minha mente é pesarosa. E às vezes me sinto tolhida. Tolhida porque mesmo livre por dentro, limito-me por fora; há sempre algo que dosar, que medir, que observar, para não pisar em falso. Eu rolo no chão em falso, porque minhas tristezas não se limitam às pessoas-corpos, ou à unicidade do ser; minhas tristezas também se limitam a minha e unicamente minha pessoa.
[Porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo...]
Sabe, eu cuido da minha vida, cuido de quem eu amo e pretendo ser cuidada. Confio, para ser confiada, acarinho para ser acarinhada. Respeito para ser respeitada – respeito a quem prezo e até quem não conheço. E amo. Amo muito. Amo esperando ser amada.
Sabe, eu me apaixonei e tenho tentado construir algo verdadeiro por algum tempo. Felicidade a minha por ainda me sentir hábil, terna e viva para crer que minha satisfação possa durar – e que continue pulsando assim.

Às vezes tenho, mesmo, o mesmo desejo oculto dos meu co-habitantes do planeta – o de ir embora, de jogar tudo para o alto de vez em quando, de me esconder não para não ser vista, mas de não ter que ver – às vezes, confesso, e com maior intensidade, talvez. E me desculpo – e às vezes soa deveras estúpido, eu sei, por me sentir mal por algum instante de inquietude interior. Soa estúpido demais sempre que tens que te desculpar por aquilo que és. Mas é uma constante. Não só a mim, com certeza absoluta. Sabe, você pode não saber disso agora, mas decerto ainda saberá.
Amo em som estéreo e sinto entalos em silêncio – não pelo que é externo a mim, mas sou assim, mesmo. Às vezes preciso de ajuda, às vezes preciso de companhia, só a simples presença, mas acho desinteressante expressar, acho pretensioso chamar alguém, porque quem entende a incompletude de outra pessoa é porque conhece a si mesmo e se importa, de alguma forma. Eu me importo.

[Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.]


Trechos em negrito entre colchetes da música de Oswaldo Montenegro - Metade de mim. É a que melhor me descreve hoje. Trechos destacados em vermelho, itálico e verde para serem entendidos de verdade. Sempre escrevo com significações nas entrelinhas, mas ainda há gente que insiste em não entender nada além do que está sob seus olhos nus.
O blog tem tido uma audiência maior que eu previa. Exemplo disso é uma amiga que não vejo há muito tempo que tem acompanhado. Por esse e demais motivos vou tentar agora mais que antes atualizar com mais freqüência. Pra "matar os fúteis dos bofes" e deliciar mesmo que seja a mim mesma.

Comentários

Marco disse…
Poxa, Mia... "Metade" me diz por inteiro e sempre, desde a primeira vez que a ouvi, que a li em uma carta de amor. E te compreendo, e te entendo e me torno cúmplice da tua tristeza e da tua alegria. Amo essas palavras em catarse que brotam do fundo como a lava de um vulcão. Bom demais te ler... eu precisava de um turbilhão...
Séfora disse…
Eiiiiiiiiiiiii
eu quero ler seu blog, vc já postou tanta coisa depois que voltou e eu nada de "vir" aki.
A monografia, definitivamente, bateu à minha porta. Eu to num desespero só. Eu só tenhu uma semaninha pra terminar :(
xerooooooooooooooooo
Jana disse…
menina, vc é humana, como todas as pessoas... metade, inteira, completa e incompleta!

Beijos
Victor Borba disse…
Tô me sentindo um idiota rsrs...vim te pedir pra explicar seu último coment lá no meu blog. Juro que não entendi rs. Foi mal.
Anônimo disse…
Adorei o texto, valeu à pena ter lido. Essas metades nos completam de alguma forma, precisamos dela para haver o equilíbrio.

Bjim*
Victor Borba disse…
Ahhhhh sim. Agora entendi. É que eu sempre ficava de recuperação em matemática. rsrs
Flavih A. disse…
è muito bom te ler.
Vc sabe usar muito bem as palavras.

Essas nossas metades. ai ai.

Belas palavras.
Beijos
Marina Rebuá disse…
Que texto lindo!
E eu vou jogar tudo pro alto e ir me aventurar em terras australianas! bom, ne?! :)

bjocas, querida!
Anônimo disse…
Eu peguei minha metade corajosa, aventureira e sonhadora. Vim pra NY e te confesso que foi a melhor coisa que eu já fiz. Me redescobri, me reinventei.
Adorei te ler, Mia. Estava com saudades.
E eu não conheci nenhuma Daniele, ainda. =p
muito bom teu blog. Voce não economiza palavras e sabe o que diz.
Parabens , gostei muito daqui.
Tenha um dia feliz.
Maurizio
Rosi disse…
Ei também tô numa fase dessas, e á tão complicado quanto. Mas tô me policiando para não deprimir de vez. Tô buscando outros assuntos, outras pessoas. Não me permito ficar mal.
Força para vc, sempre.
Um abraço

Legal ter vc de volta!!!
Heber disse…
Oww tá inspirada heim Mia...
vc vai simbora do RN? pronde? Me conta!
E olha que eu, realmente, naop sabia q Oswaldo Montenegro tinha letras tao belas... tá aí: gostei!
Jônatas Andrade disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Jônatas Andrade disse…
Olá moça, quanto tempo!!! Acho que há pelo menos um 2 meses que não trocamos uma palavra sequer. Estou de férias, aproveitei e atualizei meu blog abandonado até pelo dono. Aproveitei e vim até aqui fazer uma visita.
Jônatas Andrade disse…
Pois é, tô de férias... mas tá quase no fim já.

E sua mãe é professora de lá?? Legal, não sabia.

Vailha, mas e aí vc se arrependeu de ter comprado?? Pq poderia pedir a ela sei lá... mas eu não me arrependeria diante de tantos bons filmes.
Taize disse…
Vixe... Amiga, estou besta com tudo isso que lí!! Me identifiquei com todas as suas palavras...descreveu a minha pessoa, e o meu pensamento!kkkkkkkkkk Quero direitos autorais! kkkkkkk
Xêiro =D
Felipe Attie disse…
"amo o que tenho e amo mais ainda o que sou." Não preciso dizer mais nada.
Beijos e até...
Canalha disse…
Cada uma das metades que fazem vc inteira são metades inteiras também.
Não se desculpe nunca por ser quem você é. Mesmo sendo vc estressada, maluca, impaciente, inconstante, volúvel. Mesmo essas metades são metades de um todo que é inteiro em cada uma delas. E cada uma delas é vc e é completo, único, intenso, colorido, mesmo vc vendo preto e branco.
Bem que a Anna disse que eu devia vir mais aqui.

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