Da incurável necessidade de remoer

[I wonder if it’s too late. Should I come back and try to graduate?
We used to listen to the radio and sing along with every song we’d known]

O saudosismo é a característica que melhor permite às pessoas avaliarem outras do ponto de vista da auto-estima. Tipo... falar com carinho e pesar de tempos em tempos que passaram deixam margem para que se conclua que a vida hoje não é como se existia no passado – que não se é satisfeito no presente como quando das lembranças, que se avalie o grau de frustrações quanto os planos sustados.

A vida é igual a cheque pré-datado. Igualzinha. Lá no futuro, quando o cheque “volta”, a gente avalia que poderia ter evitado gastar naquele momento, ou aproveitando um preço menor com algo que pudesse satisfazer tanto ou quanto mais.

Quando se fala num passado com amigos de um jeito triste de quem quer estar feliz, o que se pode ter certeza é que, na falta dos amigos, é necessária a presença dos mesmos, ou, se os amigos ainda estão por perto, de algum modo aquela relação mudou de um jeito que a lembrança é o melhor que se tem da amizade e não pode ser revivida.

Saudosismo é chicotada com corda de sisal e sal grosso nas marcas. É mexer em feridas antigas e doloridas, revitalizar o courinho das frustrações do que não se fez, não se disse, não se desculpou. Não é à toa que dizem que Judas se matou de arrependimento ou desgosto (e talvez isso nem venha ao caso, mas para mim é chocante e tem tudo a ver. Tudo!).

Talvez lembrar seja primeiro passo para admitir que chegou o tempo de mudar, de alguma forma.

[And, please, don’t stop the music.]

Porque se tudo está bem, não há o que querer rememorar, se não há o que comparar ou sentir como um pesar. O contentamento presente é prerrogativa de não precisar lembrar do que já se foi, bom ou mau. Freud que o diga... acontecimentos passados desagradáveis nunca querem ser lembrados, daí que ninguém os menciona, já que a dorzinha da decepção ainda ecoa no presente. Concorda?
[I made my wish upon the stars]

Qual sua melhor memória? Quando fecha os olhos, em que de melhor você pensa?

[Take back that sad word goodbye]
[A thousand lies have made me colder and I don’t think I can look at this the same]
[Tonight with words unspoken you said that I’m the only one…]
[Give me back my point of view ‘cos I just can’t think for you]
[It’s late and I can’t sleep. I made promises that I can’t keep]
[You see, it was my fault. Of course, it was mine]
[Have you ever heard of anything so absurd in your life?]

Entre colchetes, versos de músicas que rebombam enquanto penso.

Comentários

Jana disse…
Eu tenho essa coisa de remoer, de ser nostalgica... e isso nunca vai mudar em mim.

respondendo a perguntar, a melhor lembrança é o nascimento do Bernardo..

Beijos
Gabi Vianna disse…
Ah, mas quando o passado é melhor que o presente,fica inevitável remoe-lo.. eu ando assim, vivendo muitas lembranças, mas só as boas...
adoreiee o texto! e adoro tuas visitas tb! teu blog tá linndo!
bjocassssss
Leticia disse…
Muito bom teu texto e teu blog no geral!

Gostei bastante.

Vou colocar o link no meu OK?
E depois dê uma passada por lá e diga o que achou...

=)
Tathiana disse…
Cara, vc me fez pensar... porque eu tenho sentido saudade de certas coisas...
Beijos.
Camila Hardt disse…
Esse seu post foi um tapa na minha cara!

Beijos!
Nãnny disse…
Se aquela lembramça ainda é tão intensa, então ainda é presente, não?

Eu não sei pq Mia, mas o seu ultimo post, falando de controle, me lembrou duas frases. Eu gosto delas, talvez vc goste tb.

"É difícil perder-se. É tão difícl que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."

As duas frases são da Clarice Lispector.

Bjs
Séfora disse…
Há semrpe lembranças e lembranças. Coisas boas não aproveitadas, amarguras que querem ser deletadas da mente. O certo é que vc descreveu muito bem a eterna gangorra do saudosismo na qual a nossa memória brinca.
Rafael Campos disse…
"Quando se fala num passado com amigos de um jeito triste de quem quer estar feliz, o que se pode ter certeza é que, na falta dos amigos, é necessária a presença dos mesmos, ou, se os amigos ainda estão por perto, de algum modo aquela relação mudou de um jeito que a lembrança é o melhor que se tem da amizade e não pode ser revivida"

então... uma bofetada enorme na minha cara, não é mesmo?

deste jeitinho aí

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