Epifania ou sobre os percalços do que é amar com desprendimento.

Torna-se até repetitivo, chato sentar para escrever e ler sobre amor. O problema é que para mim escrever é terapia e não importa se o blog é pra ser lido ou visto, ou se precisa ser esteticamente lindo e vendável. É minha terapia e não preciso me preocupar com a casca sobre o que é de minha restrita importância.
Daí que mexe e remexe eu volto para falar de amor. Não porque mudou, mas porque sempre presente. Crescendo e duvido se amadurecendo, aprendi que ele se manifestará de várias formas com várias pessoas diferentes ou iguais entre si, nunca mantendo os totais opostos juntos mas porque o amor une as pessoas sobretudo pelas semelhanças, senão mesmos valores. Aí quando os valores mudam conforme necessidades ou círculos, as pessoas tendem a se afastar - quando as discordâncias representam que detalhes superam a tolerância.
Tenho com meu núcleo familiar uma relação de interdependência que beira o conceito de patologia, tamanha é a "pregação", entende? De sugestões, de palavras desferidas depois do silêncio que magoam ou que ajudam, da necessidade da união dos quatro independente de qualquer coisa ao incômodo do meu silêncio sobre eles. Sempre curti essa onda de responsabilização, buscar irmão na escola, comprar pão, fazer a janta todo dia, arrumar as camas, saber se todo mundo já tá tomado banho pra ir pra cama, sempre curti sofrer por antecipação, também, mas isso nem vem ao caso nesse exato momento. Meus pais sempre reclamaram que eu nunca persisti em algo até o final desde criança, aquelas atividades físicas, sabe? Mas nunca disseram a eles que as minhas escolhas eu faria desde adulta. Daí que aprendi invariavelmente a nunca mudar a rotina, porque a rotinização me apraz - porque posso controlar. E porque gosto de construir a minha rotina. Fechar as portas antes de dormir é quase uma coreografia, tamanho é o costume e a ordenação de portões, cadeados e chaves. Depois sempre sento no meu cantinho do sofá ou venho pro meu quarto. Temos sérias discordâncias pelo choque de gerações, mas ao adolescente mais arisco eu aconselho a dançar na vibe que depois muda as coisas conforme o adequado. Nunca faça tudo o que quer simplesmente porque quer e porque "tem mais de 18 anos pode fazer o que quiser da sua vida". Não importa qual a sua idade - você nunca será maduro(a) o suficiente para as besteiras da vida, principalmente quando da impulsividade ou prazeres da carne. Daí que para mim a família é um campo sacramentado. Ninguém toca, ninguém fala. E se eu não gosto de alguma coisa não gosto e pronto, mas não falo e nem permito ninguém falar. O mesmo digo para eles.
Preciso daqueles que são de mim porque não sei se posso viver sem eles, então nos dependemos para não nos perdermos nesse caminho da vida. Não sei se por medo da morte em si, por medo da solidão, por medo da dor.
Toda dor de amor é sublime, dizem. Para mim qualquer sofrimento ensina, mas endurece a gente. Deixa a pessoa mais séria, mais reclusa, mais escusa com novas relações, deixa a pessoa mais só, mais difícil de ser cativada. Love is a battlefield, diz uma música que adoro. Viver amando é bem isso mesmo. Viver é aprender a não ser atingido de morte. Pelos outros, pelas palavras, pelo amor em si, pela aspereza, pelo trabalho, pelos carros, pelos mísseis.
E de repente você aceita os defeitos, limitações e "pré-conceituações" das pessoas que ama. De repente eles/elas esquecem que existem outros seres humanos diferentes, com limitações, também, mas assumem como intoleráveis. E você percebe que elas mudaram.
Com sua idade vem o trabalho, os filhos para alguns, as importâncias, novas amizades, e o tempo se resume ao horário da noite entre o chegar em casa e criar coragem para tomar o banho e ir dormir para começar um novo dia, uma nova semana. Começar o papo com Deus e ficar perguntando a Ele sobre os seus amigos, como eles estão, que Ele os ilumine, que cuide, que guie. Aí o coração aquece e nas noites de insônia dormir é a grande vitória, esperando pelo velho desejo de dividir a dormida e os sonhos com um outro alguém que não seus dois travesseiros e seus três lençóis.
De vez em quando ver alguém querido lava a alma, renova o espírito. "A solidão é fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima-irmã do tempo, que faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração (Alceu Valença)". A contemplação da individualidade ajuda, mas desgasta a casca.
Tem dias que não curto trocar palavras - já disse isso por aqui antes. Mas é parte de mim. Que culpa o resto do mundo tem de querer contato comigo? Aí atendo; com um peso nas costas, mas quem está do outro lado da linha é mais importante que meus maus-humores que às vezes duram mais que os dias que eu desejaria que durassem.


Tem gente que é tesouro na sua vida. Tem gente também que transforma o tesouro que você guarda em lixo com simples palavras. Porque as pessoas mudam e aceitar isso é o verdadeiro desafio - justamente aquela onda de desviar dos mísseis. Ser atingido de frente pela vida dói, sufoca; você se afoga em si mesmo. Porque ser amado é fácil, sobretudo raro; cuidar e amar com os "apesar de.." é que dificultam. Porque desviar dos mísseis demanda desprendimento e intenção de atacar o alvo quando se sente ameaçado. Atacar para amansar. Porque amar requer estudo de campo, estudo do outro e das estratégias de guerra.

Comentários

Anna Soares disse…
Eu não quero mais que meus comentários sumam no limbo do blogspot.
Nem sentir esse abuso que eu sinto quando o povo não entendo o mais simples, tipo essas suas verdades, que também são minhas.
... é por isso que lembro de vc quando vejo algo raro, culto, único e até mesmo romano pq a saudade é como a admiração de algo que está no passado, como peças de museu (preciosas que se quer guardar para sempre - em toda a eternidade)
Louise Camila Paiva disse…
Me encaixei em mtas partes desse mundo aí Carol, essa é a real...
Anônimo disse…
Gata você é simplismente o máximo te admiro muito amiga #muitoorgulho!
R&K disse…
Quando eu crescer quero escrever igual a você! Sabe que eu sou fã!

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