No dia das Mães


Eu daria uma boa mãe. Seria uma boa mãe. Não por causa da vontade que me dá de vez em quando e do arrebatamento repentino, aquela vozinha que escuto que diz "não é tempo ainda", mas porque a responsabilidade de ter alguém que sai de você é, no mínimo, atrativa.

Tenho insônia de vez em quando, aí levanto, vou à cozinha, vejo o que não está passando na TV, fico sentada na minha cama olhando os livros, leio alguma coisa, escrevo alguma coisa no caderninho só pra depois não encontrar o que escrevi porque meu quarto anda virado pelo avesso porque nunca procuro as coisas no lugar certo. Aí fico pensando em como as coisas seriam "se fossem". Gostaria da amamentação, dos olhinhos fechados, das unhas curtinhas e do meu desespero em não saber como cortá-las, do narizinho sem forma, da cara de joelho, das eructações, das regurgitações, também, da barriguinha grande, de beijar, morder, amassar, do cabelinho caindo na hora do banho, dos curativos no umbigo, das noites não-dormidas - porque hoje dou o maior valor a conseguir dormir um pouco mais.
Gostaria de lamentar que antes podia dormir e passar a noite em paz com o pai, que podia tomar um banho completo, que podia colocar maquiagem de vez em quando, que podia usar meus óculos sem ter quem tirasse a toda hora. Gostaria de chorar o tempo que não teria para passar com meu(s) filho(s), porque faz parte da vida a impressão que temos de não ter tempo para desfrutar de tudo o que quereríamos. Choraria o medo de perder os filhos.
Gostaria da aflição da primeira queda, do primeiro galo, do meu choro de desespero com medo de perder, da primeira farda da escola, de preparar a lancheira, dos joelhos arranhados da queda, gostaria de chorar no primeiro choro sentido deitando no meu colo e pedindo "mainha, não me deixe só aqui", ou "mainha,nunca morra". Gostaria dos palavrões na hora de reclamar com o porco que não ia tomar banho nunca, com as manias irritantes, dos "carões" dizendo que herdara os defeitos do pai. Gostaria de parar certos momentos e ficar guardando a cena para sempre, de querê-lo sempre naquela idade, para que não conhecesse os perigos no mundo, que a responsabilidade de afastar os problemas fosse sempre minha, e de minha vontade. Choraria o medo de perder os filhos.
É típico de mãe não querer que o filho tome decisões; é dela o desejo permanente de escolher tudo para que ele não passe pela decepção de errar. Mãe nunca quer que a gente erre, mas é obrigada a deixar. É obrigada a deixar que o filho se divirta até fora de casa. Eu encontraria o que fazer enquanto os esperaria voltar das festas em que eu não saberia o que estariam fazendo, com quem estariam, a que hora voltariam, ou se voltariam. Choraria o medo de perder os filhos
Esperaria ansiosamente pelas discussões da adolescência, dos sermões que seriam engraçados se recitados por mim contundentes, as caras feias, os cheirinhos de reconciliação, os meus pedidos de desculpas, as reclamações sobre a desorganização do quarto, das roupas, das amizades, das recuperações, das preocupações sobre o futuro. Choraria o medo de perder os filhos.
Angustiaria-me profundamente sobre se aceitaria o conceito de felicidade e se me sentiria sempre absolutamente feliz com a felicidade dele(s). E seria feliz com apenas seu rosto de contentamento. Questionaria sempre se se sentiriam bem com sua ocupação, apoiaria as idéias mais descabidas deles, mesmo com tom de abuso e contrariedade se fosse o caso de aquietarem o desejo de serem contentes com a própria vida.
Choraria o medo de perder os filhos - na convivência, nas quedas, nas viagens, nas dormidas fora de casa, no trabalho, no caminho da escola ou do trabalho de volta pra casa, de casa para o lazer, de mochila nas costas e passagem na mão, choraria o medo de perdê-los para os infortúnios, para a criminalidade, para os acidentes, para o trabalho escravizante, para a escravidão dos vícios. Enxergaria todas as suas faltas, mas nunca permitiria que alguém as apontasse. Nunca permitiria que alguém os atingisse em minha presença. Nunca permitira que se defendessem sozinhos, mesmo que fisicamente fossem maiores que eu mesma, porque por dentro a minha presença sempre os deixaria indefesos e cativos.
E ainda assim me lamentaria o quanto não estaria preparada para ser mãe, entraria em desespero com o medo da separação, estando preparada para a delícia de sentir todas as pequenas dores de amar o que seria meu. Seria uma boa mãe. Seria sim.

Comentários

Anônimo disse…
Amei o texto, e tem certas coisas que eu questiono igualzinho.

Seria uma boa mãe sim.

Bjim*
Sisa disse…
Nossa, o texto ficou lindinho demais.

Mas me sinto um ET. Quando penso na possibilidade de ser mãe, a única coisa que sinto é pânico, terror e aflição. Um desespero sem tamanho e a certeza de que não nasci pra ser mãe. Coitado de quem fosse meu filho...

Beijo.
Anna Soares disse…
Eu tav escrevendo um texto de dia das maes sobre como ia ser se fosse... mas você ja disse. A gente vai ser boa mãe; As duas. A gnt pode tipo ter perto p os bacurins serem amigos... que tal?
hehehe
Hianna disse…
Acho bebês as coisinhas mais cheirosas do mundo ^^ E juro que já me peguei pensando em encomendar um váárias vezes, mas também escuto a vozinha de "não é hora ainda".. ;]
Patrícia disse…
¬ ¬
Ai era???
Gabi Vianna disse…
Eu acho que tu será uma mãe maravilhosa... pelo menos uma mãe mto talentosa com as palavras! hehehehe

Lindo texto!!

bjooos querí!
Polyandra disse…
ah q texto lindo.
me identifiquei em algumas partes.


gostei do seu blog.
=*
Maria Jurema disse…
Quem consegue ser um bom filho, consegue ser bom em tudo. Eis, que Amélia é uma filha m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a, com todas as letras!! É ótima em tudo que faz. E eu sou sua FÃ desde sempre e não tenho dúvidas de que seu filho seria muito feliz. Saudades demais da senhora. ;***
Maria Jurema disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
yannes disse…
passei por aki =D

=**
Anna Soares disse…
Tá bom tá bom. post novo, né?
ahhhhhhhhhhhhhhhhh

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