Anti-epifania
Tem dias que se arrastam - mais que os outros... tem horas em que é inevitável reavaliar algumas decisões anteriores, algumas formas de ver a vida que se tem modificado, dadas as condições. É preciso mudar, é preciso tomar posições que antes pareciam tão distantes, tão intangíveis. São tantas concepções que precisam de uma lapidação. E tantas coisas indizíveis, que temos impressão que vamos passar a vida inteira nos fechando cada vez mais, engolindo outras coisas que por ora parecem insignificantes. As palavras não ditas, os sorrisos abafados, as atitudes presas. Porque tem sim, coisas indizíveis, pensamentos impensáveis, sons inescrutáveis da própria mente, planos que morrem para dar luz a outros e necessidades que morrem para não haver nada depois, só para não quebrar a harmonia. Tem apertos no peito que são impossíveis de serem sentidos por outrem e tem apertos de outrem que carregamos a vida inteira como nossos. Tem dores alheias que sentimos como nossas próprias - e tem as nossas próprias dores que não podemos compartir com mais ninguém, porque são nossas mais íntimas construções, o entrecruzamento de decisões, consequências, processos subjetivos, nosso eu e o que somos ao mundo.
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