Saudade
Saudade é assim, aperta de um jeito que a gente não sabe diferenciar se é fome, tristeza, dor, raiva, ansiedade. Sinto dor porque o pedaço que falta tá tão longe que é um estímulo doloroso, de fato. Tenho fome de amor, fome da pessoa. Minha tristeza é proporcional aos milímetros que se interpõem à minha satisfação somada à raiva pela impotência de nunca ter compreendido Física Moderna e não saber encurtar o espaço-tempo.
Saudade hoje, tão tão grande do meu amor.
Saudade hoje, tão tão grande do meu amor.
Ne me quitte pas Je ne vais plus pleurer
Não me abandones, eu não vou mais chorar
Je ne vais plus parler Je me cacherai là
Não vou mais falar, Me esconderei aqui
A te regarder Danser et sourire
Só para te ver dançar e sorrir,
Et à t'écouter Chanter et puis rire
Para te ouvir cantar e rir.
Laisse-moi devenir L'ombre de ton ombre
Deixa-me ser a sombra da tua sombra?
L'ombre de ta main L'ombre de ton chien
A sombra da tua mão? A sombra do teu cão?
Comentários
Sei que tá lindo, doído, sentido e analisado.
Tô preparada pra isso não.
Mas vamos combinar, que o riso fica mais gostoso quando compartilhado. Ah é. Isso sim!
Um bjo Prima...
Mas tem o bom, de dpois, que é quando se acha, se encontra, e saem fagulhas.
Segundo a Wikipedia, saudade, descreve a mistura dos sentimentos de perda, distância e amor. Define, pois, a melancolia causada pela lembrança; a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou acções.
Provém do latim solitáte, solidão."
Podemos sentir saudades de coisas, como do baloiço no recreio do colégio ou do primeiro carro e da sua bizarra personalidade; ou de estados, como o da inconsciência infantil, naqueles longínquos anos em que ainda não tínhamos de ir à escola e a vida era uma suave sequência de dias felizes, dos quais só guardamos os momentos com cheiro a bolo de chocolate.
Como sou um eterno apaixonado pelos seres humanos, vou deter-me apenas pelas saudades que sentimos das pessoas.
Essa saudade que o dicionário associa a solidão.
Realmente, quando sentimos a falta de alguém, podemos estar rodeados de gente, tanta como a que cabe no conceito de multidão, mas se nos falta aquela mão a segurar a nossa, aquele olhar em que nos perdemos sem medo, aquele abraço que é um abrigo feito à nossa medida, é inevitável essa sensação de estar perdido, desamparado, só.
Como se o nosso ser se transformasse num espectro transparente que está por ali sem estar presente.
Porquê que isto nos acontece?
Andamos nós na nossa vidinha tranquila, a circular entre os m2 que definimos como o nosso espaço, a gerir com mais ou menos stress o nosso tempo e, de repente, abrimos as portas do nosso universo a alguém, que não sendo alta nem baixa, nem gorda nem magra, vai ocupando um plano que é maior do que a sua sombra, que é mais largo do que a nossa cama, que é maior que o nosso quarto, que ocupa mais espaço do que aquela área que zelosamente demarcamos onde cabia a nossa vida inteira.
A intensidade desse alguém na nossa vida vai aumentando, entre cafézinhos, almoços rápidos, jantares que se alongam, noites que amanhecem acendendo no céu um Sol branco, tardes que escurecem incendiando a noite com um fogo estrelado.
De repente,porque passamos 24 horas sem a ver, porque uma mensagem não chega, porque o telemóvel não toca, ou simplesmente porque a vida não pára e as pessoas que somos todos nós têm de trabalhar, estar com a família, dar umas voltas, somos atingidos por essa estranha forma de melancolia, essa dorzinha na alma, o tal aperto no coração que até então andava encolhido e sossegado.
Sentimos saudades.
Aquela pessoa faz-nos falta.
A saudade está próxima da solidão porque quando nos toca, aquele espaço que era o nosso torna-se um território imenso e deserto, e o tempo que não partilhávamos corre lento, os minutos arrastam-se com preguiça e parece que falta sempre uma eternidade para que cada hora avance e nos traga de volta a pessoa que se converteu na nossa metade.