Mudei, mas não tanto

Mesmo sem ter tempo de ficar aqui de firulas, tive que me render ao costume de escrever; até porque tem vezes que o pensamento toma de conta e estudar prum concurso com tanta coisa caraminholada não iria permitir qualquer concentração produtiva.
As pessoas mudam muito, né? Mudam muito em opinião, comportamento e tal. Nunca fui rebelde, não andava de preto nem ouvia rock pesado. Sempre gostei de músicas que tivessem melodia e letra – pelo menos nisso sempre fui constante. Nem dá pra medir o quanto mudamos desde a infância, porque falam certo quando dizem que “vê melhor quem vê de fora”. Do lado de dentro é difícil avaliar. É sempre assim: você percebe pouco o quanto seu filho cresce, já que estarem todos os dias juntos impede um pouco a avaliação do desenvolvimento; então chega alguém e diz “noooossa, como o Juruca cresceu!”. E por aí vai. Entendeu?
Daí vou avaliando. Eu, pelo menos, era um saco (e como é difícil avaliar, não sei se ainda sou tão saco assim); baixinha, gordinha, óculos, chata. Não me relacionava muito com os seres de minha espécie e faixa etária, porque achava muitas brincadeiras, hm, brincadeiras de criança (quero saber o que eu pensava que era... ¬¬). Estudava pra cacete. Lógico, tinha os amiguinhos, mas uns gatinhos pingadíssimos. Pensava que ia crescer e não teria bunda, nem peitos, que ia ser cheia de espinhas, usar óculos e aparelho ortodôntico e um bucho maior que o do meu avô, que abotoava as camisas e deixava o último botão aberto – porque não atacava, e um pedaço do umbigo à mostra. Era assim que eu pensava que ia ser. Graças a Deus nem toda a profecia se cumpriu. Não fiquei magrinha, continuei usando óculos, mas tinha os preenchimentos adequados, dentes legais e uma pele que me conferia um maior grau de acne em uma época determinada mensalmente.
Antes que queria usar aparelho. Hoje acho bom não ter precisado gastar até com isso. Queria quebrar uma perna ou um braço porque achava o máximo quando os colegas chegavam com o gesso pros outros assinarem e contavam a saga da queda que partira seus ossos ao meio (criança sempre conta histórias melhor!). Na verdade minha vida se divide em “antes do meu irmão” e “depois do meu irmão”, socialmente falando. Sou uma pessoa melhor por causa dele e não faço idéia do que seria se não o tivesse mais. Sou irmãe, sabe? E gosto muito.
Voltando... sempre gostei muito de livros e meu pai nunca entendeu o motivo já que não era muito fã deles, mas incentivava. E eu queria ser escritora quando crescesse. Ainda quero.
Ainda bem que adolescência é um período de transição (embora minha mãe diga que ainda sou uma...), porque se demorasse mais acho que teria arrumado até um táxi pra lua – não, não, não revoltei... é que peguei aí o faniquito de viajar. Eu queria um piercing. Queria um piercing na língua. Pela comodidade deixei de querer, mas ainda acho “mó legal, carái!”. Sempre gostei de comodidade. Sempre gostei de ficar em casa ao invés de sair todas as sextas e sábados à noite com amigos que inclusive sempre implicaram comigo que eu era chata porque não saía. Eu saía, mas não tanto. Nunca achei que precisasse, assim e talz. A gente sempre adota uns irmãos pela vida, mas tem uns mais irmãos que outros, tipo as primas que cresceram juntas ou o amigo de escola que – esse sim, sempre mudou de visual a cada seis meses.
Queria ser escritora, e acabei virando enfermeira, professora de inglês e crio agendas desconexas em tempo e anotações. Antes achava que casar virgem era o pipoco do trovão de ser a coisa mais certa, virtuosa e completa do mundo. Ainda é uma coisa bonita, ao mesmo tempo em que difícil, machista, ingênua e hipócrita. Veja bem: não sou feminista doente, mas tem coisas que são absurdas se alimentadas.
Era altruísta de doer, comecei a ver a mediocridade do mundo, percebi que lutar sozinha não adiantaria, assumi minha mediocridade e só sou altruísta quando realmente é conveniente. Frase de uma prima dele: “ele não sabe dizer um não a ninguém”; eu: “Pois é, mulher.”; Ela: “igual a você, Amélia, você também não sabe”. O.O

Acho que sempre fui meio orgulhosa, igual a Lucy Van Pelt, a amiga de Charlie Brown: “nunca cometi um erro na minha vida. Uma vez pensei que tivesse errado, mas estava errada.”

Quando era mais na minha, conseguia passar despercebida no quesito desastre, mas o velho Murphy bateu os olhos em meus movimentos slow-motion, cabelos ao vento, piscadinha despretensiosa e se apaixonou. Nunca mais fui a mesma por causa desse affair.

O que começou como affair em uma saída para tomar sorvete e sem a mínima intenção porque em ano de vestibular ninguém é humano, transformou-se em paixão, depois amor e hoje está presente em todos os meu poros. É aquele pedacinho de êxtase que coloca o ness em my happy, a ness na minha tender, o sweet to my lips, o smile em my face. Justo eu, que pensava que nunca trocaria minha racionalidade desmedida pelo gosto da emoção em conta-gotas, hoje morro de amorragia.

Minha própria caligrafia nunca foi aceitável. Mainha morria de apagar os livros todos os anos, daí eu praticava as férias inteiras. Não adiantou bulhufas e hoje, além de ter a letra garranchuda e feia é, além de tudo, incompreensível. Logo eu, que queria escrever meus melhores momentos na parede do meu quarto, junto com as fotos.

Se antes era péssima companhia para conversar e dar conselhos, hoje, verborrágica, mereço tabefes toda vez que me meto a apresentar seminários ou conversando na hora da aula ou até conversando quando estou dando aula.

Mesmo sendo amante inveterada da comodidade, não meço o tamanho do gosto por arrumar um passaporte com “destination: UK” para curtir a comodidade olhando a neve pela janela.

Pronto. Agora posso ir estudar.

Comentários

Biani Luna disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Biani Luna disse…
Depois de uma (auto)avaliação dessas, nos surpreendemos com nós mesmos!
Mudanças sempre foram, e sempre serão necessárias..é digamos...a evolução da espécie! ;DDD
bjbjbj
Anônimo disse…
Escreves super bem! Está muito giro o texto:)´
bjo***
Arianne Pirajá. disse…
Eu andava de preto e ouvia rock pesado. Também queria engessar o pé ou o braço, não só pra contar a história, mas também porque as pessoas escreviam no gesso. Meu amigo diz que eu estou na pós-adolescência e que ela é pior do que a pré. "Pipoco do trovão" é massa...
iuehieuheiuheiuheh
boa sorte no estudo.
;*
maria clara disse…
como eu gosto das mudanças...
(só não nas dos hábitos alimentares)
Séfora disse…
Somos mais parecidas do que eu imaginava, e ao mesmo tempo mais diferentes do que eu poderia prever :P
A verdade é que deveras mudamos, mas a essência continua a mesma sempre.
Anônimo disse…
Que redação ....
Parabéns !
Anônimo disse…
Uma coisa que eu aprendi nos tempo de faculdade: O ser humano é mutável e devemos dar graças por isso. x)
Bjos.
Unknown disse…
amiga!!!!
q post lindo!
"meio" q plagiando akela repórter bruxa fofoqueira e mentirosa dos livros d Harry Potter, suas frases fizeram com q meus olhos marejassem com as lembranças do meu passado...
mas o mais lindo de td foi a forma como vc dividiu sua vida antes d dpois de ícaro. maravilhoso!
E quer saber mais? não que sua amizade e meu arrebatador carinho por ícaro tenham dividido minha vida, mas juntaram um monte d partes minhas q estavam espalhadas, errantes e despercebidas, ter vcs em minha vida me faz uma pessoa melhor.
amu-lhes!

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