Rolando dadinhos

Detesto poemas, mas adoro Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos. Detesto motos, mas no atraso desesperado pego mototáxi rapidinho. Detesto funk, acho super-sem-estilo, mas gosto da batida e me acabo. Detesto conservadorismo, mas vivo estabelecendo padrões de certo e errado e as regras que eu mesma devo seguir. Detesto gente alienada, mas amo Coca-Cola. Detesto gente revoltada, mas não me conformo com tudo errado no mundo, do jeito que ta – vivo reclamando e tentando fazer diferente. Detesto preto, mas as roupas me caem bem. Detesto programas de mau-gosto, mas adooooro Balls of Steel. Detesto forró, mas vou pras festas e ainda danço. Detesto gente ignorante, mas meu pavio é mais curto que... que.. que... Ah, dane-se, eu quase não tenho pavio.
Detesto gente egoísta, mas vivo reclamando que minha vida não está do jeito que eu queria. Detesto gente altruísta, e vivo fazendo coisas pelos outros sem a mínima intenção de retorno (confesso – tem acontecido muito menos ultimamente). Detesto política, mas detesto política (O.o ai, vai entender essa).
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Tem coisas que a gente deve se poupar de falar, mesmo quando são precisas; do mesmo jeito como tem gene que tem muitas coisas certas e precisas para falar de nós, mas não o fazem por pensarem o mesmo que nós. Aí fica todo o dito pelo não dito e o pensado pelo (in)consciente. É meio que verdade aquele pedaço da bíblia “o amor tudo suporta”. Concordo em partes e com limites pré-convencionados.

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Um rapaz do interior vizinho ao meu ganhou na mega-sena. Pra mim ele já virou uma lenda, porque um dia depois do resultado nenhuma história que se falasse sobre ele era verdadeira. Acertou sozinho as seis dezenas. O prêmio? R$ 19.685.655,01. O cara é borracheiro – é fato. Praticamente toda manhã chegava a notícia de que estavam havendo assaltos a mão armada na estrada, tudo emboscada pra pegar o recém-milionário – fato também, um pessoal que chegou de ônibus lá contou que a estrada estava tomada. A partir de agora não se sabe mais qual é a parte verdadeira da lenda do borracheiro da sena. A mulher que estava trabalhando na minha casa nesse período, que gosta de inventar estórias ou acrescentar detalhes (gritantes) às que já existem, falou que ele tinha uma borracharia também em outra cidade, mas a verdade é que os bandidos estavam pastorando todas as estradas, desde a RN até à barragem local, para que o moço não saísse com vida ou pelo menos tostão no bolso (o tostão e a vida no bolso, tá?!). Já disseram que ele não acredita que foi ele quem ganhou, logo não assume que ganhou. Já disseram que ele nem tirou o dinheiro ainda porque não sabe ler. Já disseram que ele já tentou abrir conta na Suíça. E disseram que no dia seguinte ao resultado, o cara foi trabalhar na borracharia, como se nada tivesse acontecido.
Dadinhos rolados, a questão é que o cara tem (ou teria, tecnicamente), o capital necessário pra sair de onde vive, ter uma vida confortável em qualquer lugar do planeta (praticamente), contratar tradutores para onde quer que fosse, comprar carros, casas, aprender a ler (sei lá, o que o dinheiro não faz hoje em dia?), comprar todos os carros cujos pneus conserta todos os dias, começar um novo negócio, mas não sai do lugar porque não deixam e, com tanto dinheiro no seu nome, é difícil ter em quem confiar.
Feliz, corajoso e virtuoso dele que foi trabalhar. Outras pessoas no seu lugar teriam debandado a procurar a estrada em busca de onde sacar a bufunfa no mesmo instante. Pra ver como as coisas são, né?!