Estágio é assim...

Experimente a primeira semana de estágio com tudo saindo bem, você se dando legal com o pessoal do setor, fazendo tudo direitinho sem derrubar nada (nem ninguém O.O), manter a dieta, ganhar mangas (tudo bem - está na época das mangas, mas dependendo de quem venha, acredite, as mangas são muitíssimo bem-vindas e muito mais gostosas; quem já passou por isso sabe) e ser chamada de "tia": "ô, tia, não dói não?"... "ei, quero fazer com aquela tia ali, porque com ela não dói".
Chega a um ponto em que tudo está indo tão bem que você começa a achar que tem treta na maracutaia - todo mundo sorrindo, dando-lhe chaves de salas, deixando você levar protocolo pra casa pra tirar cópia, oferecendo cafézinho (confesso: nessa aí fui fria e calculista, tudo em nome do vício; fiz amizade com as meninas da copa, aí chego lá como quem não quer nada, converso, achamos graça e opa!, já tenho a liberdade de pegar um, dois, três ou mais copinhos de café - a garrafa é grande!) e talz... no mínimo vem abacaxi dos grandes a caminho.

Impressionante o instinto da desconfiança! Tem caroço no angu! Tem caroço no angu!
Tudo bem que tem os suados percalços, mas sou uma daquelas pessoas que acreditam que todos os pequenos aspectos da vida se compensam uns com relação aos outros. Tipo como os gêmeos que pesamos hoje pela manhã; eram umas fofuras! Gordinhos, pacíficos. Nada de chororô, nada de cocô na balança, cabelinhos fininhos ao vento, uma beleza! De repente chega um cara drogado na porta meio zarolho, cabelos desgrenhados, camisa ao avesso, odores desagradáveis, perguntando pela assistente social “porque preciso de preselvativo! Cadê a muié que atende nóis aqui? Ei, galega (a galega era eu ¬¬)! Galega!”... “moço, a assistente social deu uma saidinha. O senhor pode esperar um pouquinho que ela já volta. A gente ta pesando os bebês aqui...”. E sai esculhambando o djabo da galega que não “quis” atendê-lo. Uma das melhores (ou piores???) coisas de se inserir nessa realidade é aprender como ela funciona e que nem sempre o serviço é fruto da má vontade de quem o presta.
Pagamos impostos para termos o gosto de usufruir da “parte do latifúndio que nos cabe”, mas o que fazer dos serviços que estão afogados de gente para ser atendida e pouquíssimos funcionários que dêem conta das pendengas? E a gente que está lá do ladinho de lá, tentando atender? Temos mesmo que ouvir pessoas chamando a gente de incompetente, burra, lenta e tudo o mais, enquanto equilibramos pepinos na cabeça, carregamos preás pelo rabo, corremos atrás dos problemas, improvisamos soluções, tentamos agir o mais rápido possível com os instrumentos de que dispomos e com o mínimo de tempo a nosso favor? Temos mesmo?
Temos o direito de reclamar nossos direitos (O.o’ !!!), mas há a velhíssima arma que caminha junto com o respeito: a atitude de se colocar no lugar do outro e enxergar os seus limites. Devemos, sim, tentar fazer o nosso trabalho bem da nossa melhor forma que for possível. Mesmo fazendo parte de um sistema falho, o nome da não-acomodação às limitações é Reconhecimento.
Como exigir aquilo pelo que não zelamos? Isso é ignorância.
Mas está bom demais! Que venham as mangas, as siriguelas, os pebas, as galinhas cabidelas, os cajus, as fubas... que venham os nomes humildes. São os significativos.

Tomar banho de vez em quando é bom, também. ^.^

Todos os macacos voadores da terra de Oz não poderiam estar errados! É um porre viver só!

[Basta uma colher cheia de açúcar para ajudar a descer o remédio de um jeito mais delicioso] - Mary Poppins