"Só"
São só 10 dedinhos com já roídas unhas para mais roer
São só 10 dedinhos para contar quantas coisinhas pequeninas me surpreendem por dia
São só 10 dedinhos para melar comendo algo gostoso e ter o gostinho melhor de lambê-los no final
São só 10 dedinhos para contar os infortúnios
Só 10 para me render notas boas
Só 10 que me fazem normal
Só 10 que posso estalar
Só 10...
Só tenho 10 dedos para enumerar objetivamente as coisinhas de que gosto. Dois olhos são suficientes para dar conta de ver tudo o que tenho vontade, entre cores, pessoas, belezas, desejos... os estímulos visuais devem ser fortes na simplicidade, pelo menos para mim. Forço-me a rir quando lembro de Rose, aquela de Titanic, que dizia não se surpreender com qualquer coisa, e que já tinha visto maiores que o navio lá... deixa que ela foi se apaixonar logo pelo “pequeno” Jack [desculpas a quem gosta, acho Leo DiCaprio pequenininho, singelo, sei lá, não faz meu tipo rs]. Já devo fazer o estilo total oposto, porque qualquer formiguinha cruzando meu caminho surpreende; são pequeníssimas coisas que dão um pouco mais de graça – possivelmente seja por isso que fico tão facilmente aborrecida, alguns dias são secos de coisas belas e simples.
Um coração só não dá conta de tanta coisa para sentir e associar com o único cérebro presente... às vezes falta espaço... um bocadinho de espaço. Talvez fosse suficiente só o necessário para compensar pelas faltas. Todo mundo ocupa o espaçozinho vazio de alguma forma; alguns suprem o sentimento de inferioridade tentando não superar a si mesmos, mas às outras pessoas, para que lhes admirem e se sintam compensadas; outros comem mais, ou menos; outras pessoas se afundam mais nos seus defeitos (que pra alguns são qualidades, para elas são o principal pra afastá-las da sociedade ou sentirem-se invisíveis); outras ainda alimentam cada vez mais as manias.
Tenho 10 dedinhos que às vezes parecem finos demais, compridos demais, infantis demais, até pelo hábito de roer as unhas. Tenho o que chamam de “síndrome das pernas inquietas”, e que eu mesma chamo de tique nervoso que se acentuou consideravelmente com a idade e com o cotidiano. É irritante, mas eu descontaria em quê?
Então o que me resta, sempre, com os fones nos ouvidos [ótimos disfarces para a realidade] é apreciar as pequenas coisas e descobrir que, do nada, aparecem os desejinhos pro futuro, acompanhados de figurinhas imaginativas, com direito a balõezinhos de revistinhas em quadrinhos, dedos entrelaçando durante a “pensação”, olhinhos brilhando, compartilhamento, risadas e reflexões de o quão possíveis são os desejinhos. E vou usufruindo das coisinhas pequenininhas, as pequenas grandes paixões.. as pequenas, que nunca surpreenderiam Rose, e enquanto não surpreender às outras Roses porque estão por aí afora se apaixonando por seus “Jacks”, aproveito a infatuação desses pequenos momentos. É o que chamam de “fondness” - afinidade, apreciação... “I’m very fond of” (tenho muito apreço por, ou, sou aficionada a) fechar os olhos e sentir o gostinho, mexer os pés enquanto penso em algo para a próxima meia hora, imaginar a vida e uma pessoa que não conheço enquanto ela fala, fingir que não escuto um monte de coisas importantes, mas no final assimilei tudo, escrever coisinhas sem importância, imaginar fotos legais como ficariam em tal situação, jogar canela em cima do bolo de chocolate, mexer o canudinho na garrafinha de Coca-cola antes de beber, amassar o travesseiro todo antes de dormir, deitar e colocar o travesseiro sobre minha cabeça, carregar várias coisas dentro da bolsa, ler coisas antecipadamente (e me preocupar também), ligar o som do carro antes de sair de casa, ligar o som no quarto, arrumar a estante, banana com leite condensado, sentar no cantinho do sofá em posição fetal, vestir mulambos em casa, deitar no chão da área escutando música, cantar muito alto...
[se gravassem 24horas os diálogos seria tão estúpido quanto divertido e renovador]
Comentários
=PP
adorreeeeeei méia!
;*****